O que já é considerado o maior vazamento da história do jornalismo foi revelado por um jornal alemão de nome impronunciável, Süddeutsche Zeitung, neste domingo, 03/04/2016. O caso Panama Papers vem chamando a atenção do mundo não só pelas consequências práticas do caso, mas também pelo volume de informação sobre as quais uma equipe não menos gigante de jornalistas do mundo inteiro tem se debruçado há alguns meses, fazendo um admirável jornalismo novo que fazem os nossos olhos cansados brilharem novamente.
Muita informação, né? Vamos por partes:
1) Tudo começou com uma série de documentos vazados do escritório Mossak Fonseca, uma companhia até então pouco conhecida entre os meros mortais, com base no Panamá, e que, basicamente, cria e vende empresas para que os ricos que ganharam dinheiro de forma “pouco ortodoxa” possam esconder dinheiro. O vídeo do jornal inglês The Guardian explica, de modo esquemático, como funcionava o esquema montado por um dos graúdos pego no flagra: ninguém menos que o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
2) Para quem assistiu ao vídeo, a segunda questão já é cara: o vazamento envolve gente graúda. “Entre os nomes mais destacados do caso há mandatários internacionais, membros de casas reais, esportistas e cineastas”, como lembrou o jornal El País. Uma mirada básica na primeira lista já dá um ideia do que está por vir. Há brasileiros envolvidos e não precisa nem perguntar que eu já respondo: o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aparece nesta lista também. Criminosos e mafiosos também fazem parte da lista.
3) As consequências são proporcionais ao tamanho do vazamento. São 2,6 Terabytes de informação. O que vimos até agora foi somente o aperitivo, que já faz o Wikileaks parecer um pequeno ensaio, como mostra o inforgráfico abaixo, do jornal alemão que recebeu os dados. O material vai ser mostrado aos poucos, assim como Julian Assange e sua equipe fizeram (e ainda fazem). Importante notar o que parece estar se configurando como um tipo de padrão na divulgação deste tipo de informação.
4) A maneira como os documentos foram vazados mostram que ninguém está mais seguro. Ao que tudo indica, os dados são frutos de um vazamento. Da mesma maneira como Edward Snowden foi embora da NSA, a agência de vigilância do governo dos Estados Unidos, levando informações preciosas e confidenciais sobre espionagem escondidas nas nuvens da Deep Web, alguém que tenha acesso ao arquivo virtual da Mossak Fonseca pode ter feito a manobra. Ou não. Há hackers no mundo todo especializados neste tipo de ação. de acordo com o jornal alemão, os dados forma recebidos de forma anônima e cifrada.
5) Enfim, sobre o admirável jornalismo novo. Os dados vazados cobrem um período que vai de 1977 até 2015. Desde que foram recebidos pelo Süddeutsche Zeitung, foram compilados, cruzados e analisados por uma equipe de 370 jornalistas de 76 países, que fazem parte do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Este é um dos projetos do grupo. Vale a pena visitar o site e conferir um tipo de aliança que vem reiventando o jornalismo, a partir de um tipo de interação com os computadores que vai além do uso dos editores de texto e das buscas do Google. O infográfico que mostra as relações entre alhos e bugalhos, no site do Consórcio, é prova disso: um primor de infoarte, fruto de um trabalho muito cuidadoso.
O jornalismo de dados parece ser um tendência e há muito o que aprender sobre isso. Mas é preciso pensar os filtros e as seleções prévias. O que vaza e o que estanca neste escândalo (como em qualquer outro)? É que o vamos conferir, nos próximo capítulos.